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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Camões: Amor e os desconcertos do mundo

Os poemas de Camões apresentam diversos temas (tensões) que foram abordados pelo autor para demonstrar seus sentimentos e questionamentos, sendo eles: o amor e a mulher, o autobiografismo, o sentimento religioso, os desconcertos do mundo. A crítica costuma definir a lírica de Camões em dois movimentos distintos, sendo uma com redominância pela temática amorosa e outra voltada para o “desconcerto do mundo”, espécie de grande reflexão sobre o homem e o seu lugar propiciado pela Modernidade. O AMOR E A MULHER “Pede-me o desejo, Dama, que vos veja” Pede-me o desejo, Dama, que vos veja, não entende o que pede; está enganado. É este amor tão fino e tão delgado, que quem o tem não sabe o que deseja. Não há cousa a qual natural seja que não queira perpétuo seu estado; não quer logo o desejo o desejado, porque não falte nunca onde sobeja. Mas este puro afeito em mim se dana; que, como a grave pedra tem por arte o centro desejar da natureza, assim o pensamento (pela arte que vai tomar de mim, terrestre [e] humana) foi, Senhora, pedir esta baixeza. Encontramos neste soneto um pensamento sobre o amor, inicialmente falando-se sobre o desejo e de como quem ama não sabe ao certo o que deseja. O sentimento tão físico de desejar se transforma em platônico e não sendo concretizado é condição para que o amor seja eterno. Existe, então, o conflito entre o espiritual e o carnal quando o eu-lírico expõe a sua condição terrena e humana. O amor e a referência à mulher são levados para o sentimento platônico, como pode se observar na primeira estrofe “É este amor tão fino e tão delgado”, porém também existe a contrariedade da condição humana em “que vai tomar de mim, terrestre [e] humana”, características que dão força dramática ao poema. Durante todo o tempo existe o conhecimento do que seja eterno e também a contrariedade do desejo físico, num questionamento que exprime também a força intelectual do poema. Cantor dos desconcertos do mundo Camões é o maior poeta lírico do Classicismo português. Dotado de inegável genialidade, coube a ele a melhor performance do soneto em língua portuguesa. Camões segue estritas regras de composição, obedecendo ao princípio da imitação, embebendo-se em fontes italianas como as do poeta Petrarca. A brevidade do soneto -- dois quartetos, dois tercetos -- requer grande concentração emocional, geralmente disposta sob a forma de tese-antítese com desfecho conclusivo que busca a síntese ou a unidade. A linguagem é condensada no decassílabo, utilizando a palavra de forma precisa, permeada pelo controle rígido da razão, mesmo quando o tema é uma aparente desordem. Assim, Camões é capaz de expressar-se de maneira extremamente concisa em sonetos narrativos como o famoso "Sete anos de pastor Jacó servia" e de lamentar de maneira semi-romântica a ausência da amada em "Alma minha gentil, que te partiste". É nos sonetos de análise que o poeta alcança maior desenvoltura, tecendo reflexões sobre o tempo - "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" - buscando uma definição do amor, ilustrada por uma de suas mais famosas produções - "Amor é fogo que arde sem se ver". Ele capta a psicologia feminina através de versos inesquecíveis, cujo exemplo mais significativo está em "Um mover de olhos, brando e piedoso". São muitas as composições lírico-amorosas, em que a mulher e o amor são idealizados como forma de atingir a supremacia do Bem e da Beleza. Camões se deixa levar por um certo sensualismo carnal que se opõe ao ideal petrarquiano do amor, ilustrado por "Transforma-se o amador na coisa amada". Além do tema amoroso, Camões se faz cantor dos desconcertos do mundo. Espírito muito atento à sua época tem plena consciência de que tudo muda nada é eterno. O homem, embora queira sempre atingir o ideal e a perfeição, depara-se com a terrível restrição imposta pela própria condição humana. O poeta chega à conclusão de que não existe o absoluto ou o eterno, restando a ele divagar sobre o real e o ideal, o eterno e o transitório, a morte e a vida, o pessoal e o universal. Nesses pares, encontram-se as mais profundas tensões que a lírica já deixou transparecer. OS DESCONCERTOS DO MUNDO “Ao desconcerto do Mundo” Os bons vi sempre passar no Mundo grandes tormentos; e pera mais me espantar, os maus vi sempre nadar em mar de contentamentos. Cuidando alcançar assim o bem tão mal ordenado, fui mau, mas fui castigado: assim que, só pera mim, anda o Mundo concertado. O autor considera na primeira parte de seu poema que todos que são bons passam por “grandes tormentos” e que a vida de quem é mau, um “mar de contentamentos”. Em seguida, revela que para garantir essa vida feliz resolveu ser mau, porém foi castigado, e conclui que só para ele vale a regra de que só alcança o bem quem é bom: “assim que, só para mim, anda o Mundo concertado”; para o poeta, um desconcerto do mundo é premiar quem é mau e castigar quem é bom. Neste poema encontramos a força musical nas suas rimas, no jogo entre as palavras bom,bem,mal,mau e também no uso da medida velha com o emprego da redondilha maior (versos de sete sílabas poéticas: Os/bons/vi/sem/pre/pas/sar), que garantem a musicalidade e a graça, características da lírica medieval mas que o poeta renova com o relato das experiências da sua vida e cujo resultado é a beleza de cenas do cotidiano humano. BIBLIOGRAFIA http://www.literapiaui.com.br/download/uespi-2011-sonetos.pdf http://llfeioleituras.blogspot.com.br/2012/05/amor-e-desconcerto-do-mundo-nos-sonetos.html

LEITURA OBRIGATÓRIA: PRANTO DE MARIA PARDA; Gil Vicente

PRANTO DE MARIA PARDA O Pranto de Maria Parda é uma das mais célebres peças de Gil Vicente. Intencionalmente, o grande dramaturgo, retratou a realidade das classes pobres de Lisboa, no Século XVI. Contrariando os discursos que enalteciam e louvavam a beleza e opulência da capital de um imenso império, Gil Vicente procura desvelar a vivência dos negros e mestiços chegados e nascidos na metrópole que, em Quinhentos, calcula-se que perfaziam 10% da população de Lisboa. Muitos eram alcoólatras, mal-cristianizados, deprimidos pela sub-vida serviçal e sem perspectivas de futuro a que estavam votados. Vêm-se carnalizados na figura literária de Maria, perspicaz e corrosiva observadora da sociedade, amante do vinho carrascão. Podemos imaginar apenas o impacto que o monólogo terá tido na corte e junto do monarca; quando se viu defronte de atrevida mestiça, da base da pirâmide social, para mais mulher, mais a mais sexualmente livre, assumir, entre canadas (litros) de vinho, uma das mais lúcidas e desesperançadas críticas à sociedade dos "fumos da Índia”. Gil Vicente foi genial e arrojado, mas quinhentos anos depois já o império se foi, já nada diz. Na linha de exigência a que acostumou o seu público. Para lá da coisificação compulsiva, uma criatura parda; simultaneamente pária, perdida e deambulando com desespero na solidão, procurando uma voz que não responde: - "Não sei que faça..." – diz. "Quem quer fogo, busque lenha!" – troça de si. Opressão auto-infligida é um retrato e metáfora da fragilidade humana. Maria Parda, poderosa sedutora cheia de espírito, sorumbática neurastênica, não é fácil de ser interpretada. Por que vio as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas e o vinho tão caro, e ela não podia viver sem elle Eu só quero prantear Este mal que a muitos toca; Que estou já como minhoca Que puzerão a seccar. Triste desaventurada, Que tão alta está a canada Pera mi como as estrellas; Oh! coitadas das guelas! Oh! guelas da coitada! Triste desdentada escura, Quem me trouxe a taes mazelas! Oh! gengivas e arnellas, Deitae babas de seccura; Carpi-vos, beiços coitados, Que já lá vão meus toucados, E a cinta e a fraldilha; Hontem bebi a mantilha, Que me custou dous cruzados. Oh! Rua de San Gião, Assi 'stás da sorte mesma Como altares de quaresma E as malvas no verão. Quem levou teus trinta ramos E o meu mana bebamos, Isto a cada bocadinho? Ó vinho mano, meu vinho, Que ma ora te gastamos. Ó travessa zanguizarra De Mata-porcos escura, Como estás de ma ventura, Sem ramos de barra a barra. Porque tens ha tantos dias As tuas pipas vazias, Os toneis postos em pé? Ou te tornaste Guiné Ou o barco das enguias. Triste quem não cega em ver Nas carnicerias velhas Muitas sardinhas nas grelhas; Mas o demo ha de beber. E agora que estão erguidas As coitadas doloridas Das pipas limpas da borra, Achegou-lhe a paz com porra De crecerem as medidas. Ó Rua da Ferraria, Onde as portas erão mayas, Como estás cheia de guaias, Com tanta louça vazia! Ja m'a mim aconteceo Na manhan que Deos naceo, Á hora do nacimento, Beber alli hum de cento, Que nunca mais pareceo. Rua de Cata-que-farás, Que farei e que farás! Quando vos vi taes, chorei, E tornei-me por detras. Que foi do vosso bom vinho, E tanto ramo de pinho, Laranja, papel e cana, Onde bebemos Joanna E eu cento e hum cinquinho. Ó tavernas da Ribeira, Não vos verá a vós ninguém Mosquitos, o verão que vem, Porque sereis areeira. Triste, que será de mi! Que ma ora vos eu vi! Que ma ora me vós vistes! Que ma ora me paristes, Mãe da filha do ruim! Quem vio nunca toda Alfama Com quatro ramos cagados, Os tornos todos quebrados! Ó bicos da minha mama! Bem alli ó Sancto Espírito Ia eu sempre dar no fito N'hum vinho claro rosete. Oh! meu bem doce palhete, Quem pudera dar hum grito! Ó triste Rua dos Fornos, Que foi da vossa verdura! Agora rua d'amargura Vos fez a paixão dos tornos. Quando eu, rua, per vós vou, Todolos traques que dou São suspiros de saudade; Pera vós ventosidade Naci toda como estou. Fui-me ó Poço do chão, Fui-me á praça dos canos; Carpi-vos, manas e manos, Que a dezaseis o dão. Ó velhas amarguradas, Que antre três sete canadas Sohiamos de beber, Agora, tristes! remoer Sete raivas apertadas. Ó rua da Mouraria, Quem vos fez matar a sêde Pela lei de Mafamede Com a triste d'agua fria? Ó bebedores irmãos, Que nos presta ser christãos, Pois nos Deos tirou o vinho? Ó anno triste cainho, Porque nos fazes pagãos? Os braços trago cansados De carpir estas queixadas, As orelhas engelhadas De me ouvir tantos brados. Quero-m'ir ás taverneiras, Taverneiros, medideiras, Que me dem hua canada, Sôbre meu rosto fiada, A pagar la polas eiras. (Pede fiado á Biscaïnha.) Ó Senhora Biscaïnha, Fiae-me canada e meia, Ou me dae hua candeia, Que se vai esta alma minha. Acudi-me dolorida, Que trago a madre cahida, E çarra-se-me o gorgomilo: Enquanto posso engoli-lo, Soccorei-me minha vida. Biscainha Não dou eu vinho fiado, Ide vós embora, amiga. Quereis ora que vos diga? Não tendes isso aviado. Dizem lá que não he tempo De pousar o cu ao vento. Sangrade-vos, Maria Parda; Agora tem vez a Guarda E a raia no avento. (A João Cavalleiro, Castelhano). Devoto João Cavalleiro, Que pareceis Isaïas, Dae-me de beber tres dias, E far-vos-hei meu herdeiro. Não tenho filhas nem filhos, Senão canadas e quartilhos; Tenho enxoval de guarda, Se herdardes Maria Parda, Sereis fóra d'empecilhos. João Cavalleiro Amiga, dicen por villa Un ejemplo de Pelayo, Que una cosa piensa el bayo Y otra quien lo ensilla. Pagad, si quereis beber; Porque debeis de saber Que quien su yegua mal pea, Aunque nunca mas la vea, Èl se la quiso perder, (Vai-se a Branca Leda). Branca mana, que fazedes? Meu amor, Deos vos ajude; Que estou no ataude, Se me vós não accorredes. Fiade-me ora tres meias, Que ando por casas alheias Com esta sêde tão viva, Que ja não acho cativa Gota de sangue nas veias. Branca Leda Olhade, mulher de bem, Dizem qu'em tempo de figos Não ha hi nenhuns amigos, Nem os busque então ninguem. E diz o exemplo dioso, Que bem passa de guloso O que come o que não tem. Muita agua ha em Boratem E no poço do tinhoso. (Vai-se a João do Lumiar) Senhor João do Lumiar, Lume da minha cegueira, Esta era a verde pereira Em que vos eu via estar. Fiae-me um gentar de vinho, E pagar-vos-hei em linho, Que ja minha lã não presta: Tenho mandada hua besta Por elle a antre Douro e Minho. João do Lumiar Exemplo de mulher honrada, Que nos ninhos d'ora a hum anno Não ha passaros oganno. I-vos, que sois aviada. Emquanto isto assi dura, Matae com agua a seccura, Ou ide a outrem enganar, Que eu não m'hei de fiar De mula com matadura. (Indo pera casa de Martin Alho, vai dizendo): Amara aqui hei d'estalar Nesta manta emburilhada: Oh! Maria Parda coitada, Que não tens já que mijar! Eu não sei que mal foi este, Peor cem vezes que a peste, Que quando era o trão e o tramo, Andava eu de ramo em ramo Não quero deste, mas deste. (Diz a Martim Alho): Martim Alho, amigo meu Martim Alho meu amigo, Tão secco trago o embigo Como nariz de Judeu. De sêde não sei que faça: Ou fiado ou de graça, Mano, soccorrede-me ora, Que trago ja os olhos fóra Como rala da negaça. Martim Alho Diz hum verso acostumado: Quem quer fogo busque a lenha; E mais seu dono d'acenha Appella de dar fiado. Vós quereis, dona, folgar, E mandais-me a mim fiar? Pois diz outro exemplo antigo, Quem quizer comer comigo Traga em que se assentar. (Vai-se á Falula). Amor meu, mana Falula, Minha gloria e meu deleite, Emprestae-me do azeite, Que se me sécca a matula. Até que haja dinheiro, Fiae, que pouco requeiro, Duas canadas bem puras, Por não ficar ás escuras, Que se m'arde o candieiro. Falula Diz Nabucodonosor No sideraque e miseraque, Aquelle que dá gran traque Atravesse-o no salvanor. E diz mais, quem muito pede, Mana minha, muito fede. Sete mil custou a pipa; Se quereis fartar a tripa, Pagae, que a vinte se mede. Maria Parda Raivou tanto sideraque E tanta zarzagania, Vou-me a morrer de sequia Em cima d'hum almadraque. E ante de meu finamento, Ordeno meu testamento Desta maneira seguinte, Na triste era de vinte E dous desde o nacimento. TESTAMENTO A minha alma encommendo A Noé e a outrem não, E meu corpo enterrarão Onde estão sempre bebendo. Leixo por minha herdeira E tambem testamenteira, Lianor Mendes d'Arruda, Que vendeo como sesuda, Por beber, at'á peneira. Item mais mando levar Por tochas cepas de vinha, E hua borracha minha Com que me hajão d'encensar, Porque teve malvasia. Encensem-me assi vazia, Pois tambem eu assi vou; E a sêde que me matou, Venha pola cleresia. Levar-me-hão em hum andor De dia, ás horas certas Que estão as portas abertas Das tavernas per hu for. E irei, pois mais não pude, N'hum quarto por ataude, Que não tivesse agua pé: O sovenite a Noé Cantem sempre a meude. Diante irão mui sem pejo Trinta e seis odres vazios, Que despejei nestes frios, Sem nunca matar desejo. Não digão missas rezadas, Todas sejão bem cantadas Em Framengo e Allemão, Porque estes me levarão Ás vinhas mais carregadas. Item dirão per dó meu Quatro ou cinco ou dez trintairos, Cantados per taes vigairos, Que não bebão menos qu'eu. Sejão destes tres d'Almada, E cinco daqui da Sé, Que são filhos de Noé, A que som encommendada. Venha todo o sacerdote A este meu enterramento, Que tiver tão bom alento Como eu tive ca de cote. Os de Abrantes e Punhete, D'Arruda e d'Alcouchete, D'Alhos-Vedros e Barreiro, Me venhão ca sem dinheiro Até cento e vinte e sete. Item mando vestir logo O frade allemão vermelho Daquelle meu manto velho Que tem buracos de fogo. Item mais, mais mando dar A quem se bem embebedar No dia em que eu morrer, Quanto movel hi houver E quanta raiz se achar. Item mando agasalhar Das orphans estas nó mais As que por beber dos paes Ficão proves por casar. Ás quaes darão por maridos Barqueiros bem recozidos Em vinhos de mui bôs cheiros; Ou busquem taes escudeiros, Que bebão coma perdidos. Item mais me cumprirão As seguintes romarias, Com muitas ave-marias. E não curem de Monção. Vão por mim á Sancta Orada D'Atouguia e d'Abrigada, E a Curageira sancta, Que me derão na garganta Saude a peste passada .Item mais me prometti Nua á pedra da estrema, Quando eu tive a postema No beiço de baixo aqui. E porque gran gloria senta, Lancem-me muita agua benta Nas vinhas de Caparica, Onde meu desejo fica E se vai a ferramenta. Item me levarão mais Hum gran cirio pascoal Ao glorioso Seixal Senhor dos outros Seixaes; Sete missas me dirão E os caliz encherão, Não me digão missa sêcca; Porque a dor da enchaqueca Me fez esta devação. Item mais mando fazer Hum espaçoso esprital, Que quem vier de Madrigal Tenha onde se acolher. E do termo d'Alcobaça Quem vier dem-lhe em que jaça: E dos termos de Leirea Dem-lhe pão, vinho e candea, E cama, tudo de graça. Os d'Obidos e Santarém, Se aqui pedirem pousada, Dem-lhes de tanta pancada Como de maos vinhos tem. Homem d'Entre Douro e Minho Não lhe darão pão nem vinho; E quem de riba d'Avia for Fazê-lhe por meu amor Como se fosse vizinho. Assi que por me salvar Fiz este meu testamento, Com mais siso e entendimento Que nunca me sei estar. Chorae todos meu perigo, Não levo o vinho que digo, Qu'eu chamava das estrellas, Agora m'irei par'ellas Com grande sêde comigo. Estará em discussão neste estudo aquilo a que se poderá chamar a teatralidade intrínseca da obra de Gil Vicente que anda com o nome de Pranto de Maria Parda (PMP). Maria Parda lamenta-se pela falta de vinho nas tabernas de Lisboa, evocando os tempos em que ele era abundante e barato. Depois, resolve pedir o vinho fiado a alguns taberneiros que lho negam. Por fim, decide morrer e pronuncia um extenso testamento que se refere obsessivamente ao vinho. Sobre a Obra Figurando no Quinto Livro e último da Copilaçam de toda as obras de Gil Vicente (1562) que inclui, segundo informa o próprio compilador (decerto Luís Vicente), as trovas, e cousas miúdas, o PMP encontra-se ao lado de textos mais curtos e de espécie aparentemente diferente da dos autos. Estes haviam sido distribuídos pelos quatro primeiros Livros e, em quase todos, as notas em epígrafe, ao apresentarem o texto, assinalavam também a sua representação, com o local, a data e a ocasião. A maioria de tais rubricas relaciona as ações teatrais com festas e efemérides ligadas à vida da família real e do paço. Assim acontece com uma Visitação, que abre o Livro Primeiro e que, com as suas doze estrofes de monólogo, é coisa bem mais miúda que a maioria das composições do Quinto Livro. No entanto, nunca lhe poderíamos chamar as trovas do Vaqueiro porque foi texto representado na câmara da rainha (1502), segundo os preceitos e instruções relativa à representação teatral. A rubrica do Pranto, que serve de título na Copilaçam, escreve assim: De Gil Vicente em nome de Maria parda fazendo pranto porque viu as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas e o vinho tão caro e ela não podia viver sem ele A colocação do PMP no último livro não é argumento para determinar o seu carácter de trovas escritas para leitura. O Quinto Livro é uma secção sortida de restos, perdidos e achados felizes de obras que andavam publicadas em folhetos e copiadas em cancioneiros de mão. Na época manuelina eram tênues as fronteiras que separavam a invenção e execução da poesia das do teatro. E muito haveria a dizer sobre a teatralidade inerente à produção poética que figura no Cancioneiro Geral. A própria Copilaçam de Gil Vicente, embora não no título mas sim nos antetextos, é chamada cancioneiro, ou seja, coletânea poética, obra para ser lida. E é possível que o fosse já então. O que não exclui a representabilidade dos textos aí coligidos. Unidades dramáticas l. Personagens Maria Parda é personagem feminina, o que é raro no gênero monólogo dramático de então. Ela faz parte das comadres vicentinas velhas, todas personagens de teatro. A linguagem e a sua posição enunciativa __ um estado elementar de necessidade, uma atitude pulsional __ assemelham-se às da mãe de Isabel em Quem tem Farelos? E às velhas do auto da Festa e do Triunfo do Inverno. Maria Parda sofre ainda a caracterização de beberrona, o que não acontece com as suas congêneres, sendo suporte de uma série de traços goliárdicos (devassos) (a solidariedade das tabernas, os seus queridos manos e manas). Se juntarmos tudo o que vai caracterizando Maria Parda obteremos um conjunto extraordinariamente variado: além do traje (a nudez e o manto), e da descrição realista do corpo velho e doente, existe a linguagem figurativa (repetições, trocadilhos, exageros, ironia), a mistura de níveis ou registros (da retórica cortesã à mais vernácula obscenidade), a forma arcaizante da segunda pessoa do plural (socorrede-me), as insistências num campo semântico muito primário (comida, doenças, preços, roupa), e uma riquíssima variedade ilocutória (lamento, pragas, apóstrofes animizadoras, exclamações, processos de sedução, pedido, grito, promessa). Note-se que não se trata de uma personagem de negra, quando muito uma Maria Mulata, pois que não existe qualquer fórmula específica da língua de preto, já então codificada. Mas o que fica sem resposta segura é o seguinte: terá havido um corpo de ator (Gil Vicente?) a representar este corpo? Se olharmos de perto cada um dos seis taberneiros, com falas de apenas nove versos, dos quais três ou quatro são obrigatoriamente ocupados com provérbios, deparamos com uma caracterização bem concreta de alguns deles: a Falula mostra-se grosseira, João Cavaleiro é cristão-novo, Branca Leda só fala de comida. Estes taberneiros lisboetas funcionam ainda, note-se, como uma espécie de coro que comenta as súplicas de Maria Parda. BIBLIOGRAFIA http://professorparaense.com/mariaprada.htm

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