CAPITULO 10
O ROMANCE: HISTÓRIA E SISTEMA DE UM GÉNERO LITERÁRIO
“Se o século XVII constitui a época áurea da moderna tragédia, o século XIX constitui inegavelmente o período mais esplendoroso da história do romance. Depois das fecundas experiências dos românticos, sucederam-se, durante toda a segunda metade do século XIX, as criações dos grandes mestres do romance europeu. Forma de arte já sazonada, dispondo de uma vasta audiência e disfrutando de um prestígio crescente, o romance domina a cena literária. Com Flaubert, Maupassant e Henry James, a composição do romance adquire uma mestria e um rigor desconhecidos até então; com Tostoj e Dostoiewskij, o universo romanesco alargou-se e enriqueceu-se com experiências humanas pertubantes pelo seu carácter abismal, estranho e demoníaco: com os realistas e naturalistas, em geral, a obra romanesca aspira à exactidão da monografia, de estudo científico dos temperamentos e dos meios sociais. Em vez dos heróis altivos e dominadores, relevantes quer no bem, quer no mal, tanto na alegria como na dor, característicos das narrativas românticas, aparecem nos romances realistas as personagens e os acontecimentos triviais e anódinos extraídos da baça e chata rotina da vida”.(PG. 683)
“Depois, no declinar do século XIX e nos primeiros anos do século XX: aparecem os roamances de análise psicológica de Marcel Proust e de Virginia Woolf; James Joyce cria os seus grandes roamnces de dimensões míticas, construídos em torno das recorrências dos arquétipos (Ulisses e Finnegans Wake); Kafka dá a conhecer os seus romances simbólicos e alegóricos. Renovam-se os temas, exploram-se profundamente as técnicasde narrar, de construir a intriga, de apresenatr as personagens. Sucedem-se o romance neo-realista, o romance existencialista, o neuveu roman . O roamance não cessa, enfim, de revestir novas formas e de exprimir novos conteúdos, numa singular manifestação da perene inquietude estética e espiritual do homem”.(pg. 684)
“Segundo alguns críticos, o romance actual, depois de tão profundas e numerosas metamorfoses e aventuras, sofre de uma insofismável crise, aproximando-se do seu declínio e esgotamento. Seja qual for o valor de tal profesia, um facto, porém, não importante do nosso tempo, pelas possibilidades expressivas que oferece ao autor e pela difusão e influência que alcança entre o público”.(pg. 684)
CLASSIFICAÇÃO TIPOLOGICA DO ROMANCE
WOLFGANG KAYSER
“Tomando em consideração o diverso tratamento que podem apresentar o evento, a personagem e o espaço, fundamentais elementos constitutivos do romance, estabelece a seguinte classificação tipológica:
a) Romance de acção ou de acontecimento: Romance caracterizado por uma intriga concentrada e fortemente desenhada, com princípio, meio e fim bem estruturados. A sucessão e o encadeamento das situações e dos episódios ocupam o primeiro plano, relegando para lugar muito secundário a análise psicológica das persoangens e a descrição dos meios. Os romances de Walter Scott e de Alexandre Dumas exemplificam este tipo de romance.
b) Romance de personagem: Romance caracterizado pela existência de uma única persoanagem central, que o autor desenha e estuda demoradamente e à qual obedece todo o desenvolvimento do romance. Trata-se, frequentemente, de um romance propenso para subjetivismo lírico e para o tom confessional, como sucede com o Werther de Goethe, o Adolphe de Bejamim Constant, o Raphael de Lamartine, etc. O título é, em geral, pois é constituído, com muita frequência, pelo próprio nome da personagem central.
c) Romance de espaço: Roamance que se caracteriza pela primazia que concede à pintura do meio histórico e dos ambientes sociais nos quais decorre a intriga. É o que se verifica nos romances de Balzac, de Zola, de Eça de Queirós, de Tolstoj, etc. Balzac, ao colocar a sua obra romanesca sob o título de genérico de Comédie humaine, revelou bem o seu desejo de oferecer um vasto quadro da sociedade do seu tempo. O meio descrito pode ainda ser geográfico ou telúrico, como sucede na Selva de Ferreira Castro ou nas Terras do demo de Aquino Ribeiro, embora este meio telúrico seja indissociável, na visão do romancista, do homem que nele se integra. O romance brasileiro, por exemplo, tende poderosamente para este tipo de romance.
Obs: “O valor é aceitável, se não lhe conferirmos um valor absoluto e de rigidez extrema. Com efeito, é impossível encontrar um roamnce concreto que realiza de modo puro cada uma das modalidades tipológicas estabelecidas por Wolfgang Kayser, acontecendo também que muitos romances, pela sua riqueza e pela sua complexidade, dificilmente podem ser integrados nesta ou naquela classe.(pg. 686)
A PERSONAGEM
“A personagem constitui um elemento estrutural indispensável da narrativa romanesca. Sem personagem, ou pelo menos sem agente, como observa Roland Bathes, Não esiste verdadeiramente narrativa, pois a função e o significado das acções ocorrentes numa sintagmática narrativa dependem primordialmente da atribuição ou da referência dessas acções a uma personagem ou a um agente”. (pg. 687)
ÓPTICA FUNCIONALISTA
Greimas
“substitui o conceito de personagem pelo termo termo de actante”. (pg. 687)
personagem > actante
Sémantique struturale
Este termo e esse conceito têm origem lingüística, derivando da sintaxe estrutural de LUCIEN TESNIÈRE.
“O núcleo verbal, afirma Tesnière, exprime “um pequeno drama” que comporta sempre um processo, actantes e circunstâncias”.
EXPLICAÇÃO
“Transpondo estes conceitos para o plano da sintaxe estrutural, teremos respectivamente o verbo, os actantes e os circunstânciais.
• Actantes: são sempre substantivos ou equivalentes de substantivos, são subordinados imediatos do verbo e podem classificar-se em “primeiro actante”, “segundo actante” e t”erceiro actante”.
1. Primeiro actante: é aquele que realiza a acção (sujeito)
2. Segundo actante: é aquele que suporta a acção (complemento directo)
3. Terceiro actante: é aquele “em benefício ou em detrimento do qual se realiza a acção” (complemento indirecto)
Greimas
Transfere este conceito sintáctico (e também semântico) para a análise da estrutura narrativa. O autor confere-lhe uma relevância fundamental, concebendo os actantes como a instância superior que sintacticamente subordina os predicados (dinâmicos ou estáticos) e como as “unidades demânticas da armadura da narrativa”.
NÍVEL IMANENTE
“Um nível postulado como comportando estruturas virtuais e universais”. (pg. 689)
Nota: Os actantes, no seu percurso narrativo – uma seqüência hipotáxica ou um encadeamento lógico de programas narrativos -, podem agregar ao seu estatuto actancial (o que os define num dado momento) um número determinado de funções actanciais, definíveis tanto sintacticamente, em relação à posição do actante no percurso narrativo, como morfologicamente, em relação ao seu conteúdo modal.
MODALIDADES
querer-fazer
saber-fazer
poder-fazer
MODELO ACTANCIAL
diagrama Greimas
destinador objeto → destinatário
↑
↑
adjuvante sujeito→ opositor
Nesse esquema biplanar:
• o destinador: é aquele que “manda fazer”, que comunica ao sujeito “não só os elementos da competência modal, mas também o conjunto dos valores em jogo”
• o sujeito: é aquele que quer, que pretende o objeto (relação de desejo, manifestada por uma relação juntiva, pois que o sujeito e o objeto existem um para o outro) (pg. 690)
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