sábado, 27 de setembro de 2014
A atividade racional e suas modalidades
A filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional, realizadas pela razão subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento: a intuição (ou razão intuitiva) e o raciocínio (ou razão discursiva).
A atividade racional discursiva passa por etapas sucessivas de aproximação para chegar ao conceito ou à definição do objeto.
A razão intuitiva ou intuição, ao contrário, consiste num único ato do espírito que, de uma só vez, capta por inteiro e completamente o objeto. A intuição é uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento, sem necessidade de provas ou demonstrações para saber o que conhece. Palavra derivada do verbo latino intuere, que significa “olhar atentamente, contemplar, ver claramente”.
A intuição
A intuição é uma visão global e completa de uma verdade, de um objeto, de um fato. Nela, de uma só vez, a razão capta todas as relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída. É um ato intelectual de discernimento e compreensão, como, por exemplo:
Quando um médico, graças ao conjunto de conhecimentos que possui, faz um diagnóstico em que apreende de uma só vez a doença, sua causa e o modo de tratá-la.
Os psicólogos se referem à intuição usando o termo insight, que descrevem como o momento em que temos uma compreensão total, direta e imediata de alguma coisa, ou momento em que percebemos, num só lance, um caminho para a solução de um problema prático, científico, filosófico ou moral. Um exemplo de intuição pode ser encontrado no romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
Riobaldo e Diadorim são dois jagunços ligados pela mais profunda amizade e lealdade, companheiros de lutas e cumpridores de uma vingança de sangue contra os assassinos da família de Diadorim. Riobaldo, porém, sente-se cheio de angústia e atormentado, pois seus sentimentos por Diadorim são confusos, como se entre eles houvesse muito mais do que amizade.
Quando Diadorim é assassinado e o corpo é trazido para ser preparado para o funeral, Riobaldo descobre que Diadorim era mulher. De uma só vez, num só lance, Riobaldo compreende tudo o que havia sentido, todos pos fatos acontecidos entre eles e que lhe pareciam inexplicáveis, toda as conversas que haviam tido, todos os gestos estranhos de Diadorim (como, por exemplo, o de jamais banhar-se nos rios na companhia dos demais jagunços), e compreende, instantaneamente, a verdade: estivera apaixonado por Diadorim.
O exemplo do médico e o de Riobaldo indicam que a intuição pode depender de conhecimentos anteriores e que ela ocorre no momento em que esses conhecimentos são percebidos de uma só vez, numa síntese em que aparecem articulados e organizados num todo (sua forma, seu conteúdo, suas causas, suas propriedades, seus efeitos, suas relações com outros, seu sentido). Isso significa que a intuição pode ser o momento final de um processo de conhecimento.
Justamente por ser o momento de conclusão de um percurso, muitos filósofos consideram também que uma intuição pode ser o ponto inicial de um novo percurso de conhecimento em cujo ponto final haverá uma nova intuição.
A intuição racional pode ser de dois tipos: intuição sensível ou empírica e intuição intelectual.
A intuição sensível ou empírica é o conhecimento que temos a todo momento de nossa vida. Assim, com um só olhar ou num só ato de visão percebemos uma casa, um homem, uma mulher, uma flor, uma mesa. Num só ato, por exemplo:
Capto que isto é uma flor: vejo sua cor e suas pétalas, sinto a maciez de sua textura, aspiro seu perfume, tenho-a por inteiro e de uma só vez diante de mim.
A intuição sensível ou empírica é psicológica, isto é, refere-se aos estados do sujeito do conhecimento como ser corporal e psíquico individual – sensações, lembranças, imagens, sentimentos, desejos e percepções são exclusivamente pessoais, variando de pessoa para pessoa e numa mesma pessoa em decorrência de variações em seu corpo, em sua mente ou nas circunstâncias em que o conhecimento ocorre.
Assim, a marca da intuição empírica é sua singularidade: por um lado, está ligada à singularidade do objeto intuído (ao “isto” oferecido à sensação e à percepção) e, por outro, está ligada à singularidade do objeto que intui (aos meus estados psíquicos não capta o objeto em sua universalidade, a a experiência intuitiva não é transferível para outro objeto. Riobaldo teve uma intuição empírica.
A intuição intelectual difere da sensível justamente por sua universalidade e necessidade. Quando penso: “Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo”, sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que isto é verdade e que é necessário que seja sempre assim, ou que é impossível que não seja sempre assim. Ou seja, tenho conhecimento intuitivo princípio da contradição. Exemplo:
B1- Quando digo: “O amarelo é diferente do azul”, sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que há diferenças entre, a cor amarela e a cor azul, mas vejo, na intuição intelectual, a diferença entre cores.
B2- Quando afirmo: O todo é maior do que as partes”, sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que isto é verdade porque intuo uma forma necessária de relação entre as coisas.
A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da razão (identidade, contradição, terceiro excluído, razão suficiente), os quais, por serem princípios, não podem ser demonstrados (para demonstrá-los, precisaríamos de outros princípios e para demonstrar estes outros princípios precisaríamos de outros, num processo interminável, que nos impediria de saber com certeza a verdade de um princípio).
Alguns filósofos afirmam também que conhecemos por intuição as ideias simples, isto é, aquelas que não são compostas de outras e não precisam de outras para ser conhecidas. Justamente porque não dependem de outros conhecimentos ou de outras ideias, as ideias simples são apreendidas num ato intuitivo. Por outro lado, como a intuição pode ser o ponto final de um processo de conhecimento, ela é também a apreensão intelectual das relações necessárias entre as ideias e entre os seres, e entre as ideias e as coisas de que são ideias.
Mito da caverna
A história da Filosofia, os dois exemplos mais célebres de intuição intelectual encontram-se em Platão (séculos IV a. C.) e em Descartes (século XVII).
A narrativa do Mito da Caverna, Platão descreve o que se passa com o prisioneiro que vê a luz do Sol e as coisas e o compara ao filósofo que vê a luz do bem e as ideias verdadeiras. O prisioneiro tem uma intuição empírica (tudo o que conhece, conhece por sensação ou por percepção sensorial) e o filósofo tem uma intuição empírica (tudo o que conhece, conhece por sensação ou por percepção sensorial) e o filósofo tem uma intuição intelectual (é seu intelecto ou sua inteligência que conhece as ideias verdadeiras), mas ambos têm um conhecimento intuitivo porque direto, imediato, sem necessidade de demonstrações, argumentos e provas.
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