
João Guimarães Rosa mais conhecido como Guimarães Rosa (Cordisburgo, 27 de junho de 1908 — Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967) foi um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos. Foi também médico e diplomata.
Os contos e romances escritos por João Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais. Tudo isso, somado a sua erudição, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas.
(Winkepédia, acesso 24/11/2008)
“NÃO ME SUBMETO À TIRANIA DA GRAMÁTICA”
Depois dessa história literária povoada das mais diversas produções regionalista, que parecia ter chegado a seu requinte máximo com os escritores de 30, tinha-se a impressão de que autores e leitores não mais se interessariam por essa tendência.
Assim, em 1946, quando Guimarães Rosa surge com Sagarana, uma coletânea de contos em que a matéria é o sertão, pensou-se que mais um ciclo regionalista se inaugurara e que os escritores brasileiros decididamente elegeram o mundo rural como único objeto de suas preocupações.
De fato, o regionalismo estava novamente em pauta, mas desta vez para ganhar um novo significado. Em Guimarães Rosa, a tendência regionalista acaba assumindo a característica de experiência estética universal, compreendendo a fusão entre o real e o mágico, de forma a radicalizar os processos mentais e verbais inerentes ao contexto fornecedor de matéria-prima. O folclórico, o pitoresco e o documental cedem lugar a uma maneira nova de repensar as dimensões da cultura, flagrada em suas articulações no mundo da linguagem.

O que se altera na ficção brasileira com a produção de Guimarães Rosa é o modo de enfrentar a palavra, a maneira de considerar a linguagem. “Não, não sou romancista; sou um contista de contos críticos. Meus romances e ciclos de romances são na realidade contos nas quais se unem a ficção poética e a realidade. Sei que daí pode facilmente nascer um filho ilegítimo, mas justamente o autor deve ter aparelho de controle: sua cabeça. Escrevo, e creio que este é o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros. A gramática e a chamada filologia, ciência lingüística, foram inventadas pelos inimigos da poesia.”
(Literatura Comentada: Guimarães Rosa, Beth Breit, PUC, 1982)
Noto: O estudante não deve desprezar, ou deixar de submeter-se ao estudo da gramática por esse e outros motivos, visto que, o domínio da norma padrão da língua e indispensável para o sucesso profissional. Fica o alerta.
ENTRE PERDAS E GANHOS
Publicada originalmente no volume “Corpo de Baile” (1956), “Miguilim”: Campo Geral”, mais conhecido como “Miguilim”, conta sobre Miguel, de 8 anos de idade, que vive com a família na localidade chamada Mutum. Nesse cenário, os dramas familiares conduzem a vida e o crescimento do persoangem-título. Miguilim, como é chamado, é companheiro inseparável do caçula, Dito. Se Miguilim é mais velho, Dito é mais sábio, ponderado, a bússola que rege as atitudes do irmão:

Mutum, de Sandra Kogut
“O Dito, menor, muito mais menino e sábio em adiantado as coisas, com um acerteza. Ele, Miguilim, mesmo quando sabia, espiava na dúvida, achava que podia ser errado. Até as coisas que ele pensava, precisava de contar ao Dito, para o Dito reproduzir com aquela força séria, confirmada, para então ele acreditar que era mesmo verdade”.
(Em Ficção Completa (Nova Aguilar, 1994)
Eles se completam e completam numa combinação entre razão e sensibilidade. Numa família em que a criança não tem voz, Miguilim, com sua fragilidade, busca, ainda que de modo instável, se fazer ouvir e mais, marcar sua presença. E daí seus conflitos com o pai, Nhô Béro, responsável pelas violentas surras que o menino e pó algumas das grandes perdas pelas quais passa, como a cadela predileta, Cuca Pingo-de-Ouro, que o pai dá a tropeiros, e os passarinhos que ele criava, que o pai solta depois de uma contrariedade.

Mutum, de Sandra Kogut
O único adulto atencioso para com Miguilim é o irmão do pai, o Tio Terêz. No entanto, o menino está colocado no meio do conflito dos grandes, já que pai e tio disputam o amor da mãe, Nhanina. Solicitado a entregar a ela um bilhete do tio, Miguilim sente que isso não deve ser feito. Entre desapontar o único amigo adulto e agir contra sua consciência, o menino passa por uma crise dolorosa até optar pelo caminho moral e devolver o bilhete ao tio.
“Campo Geral” é, de certo modo, uma fábula sobre o crescimento, a perda da infância. A cena em que o menino queima no quintal todos os seus brinquedos é emblemática. E nesse percurso, Dito age como um mestre que ensina a Miguilim quais caminhos tomar e que zela por ele. Dito ensina Miguilim a ouvir seu coração e também a cultivar e manter uma alegria íntima mesmo perante acontecimentos ruins ou a própria morte.
O crescimento do personagem é metaforizado pelos óculos que recebe ao se constatar a miopia de que sofria e pela partida para o Curvelo para estudar. A morte de Dito, por tétano, também é importante nesse processo de crescimento, já que Miguilim carece de autonomia, de seus próprios caminhos.
(Rev. Discurso Literário: Guimarães Rosa, Micheliny Verunschy, escritora, ANO1º)
Obs: uma curiosidade que podemos destacar na obra desse autor e que ele rompe o paradigma da leitura em voz auto, dificultando na complexidade do seu texto a leitura da narrativa A leitura interior é evidenciada.
Questão;
(PUCCAMP-SP) No conto Miguilim, de Guimarães Rosa, o leitor compreenderá que as sofridas experiências de menino no Mutum permitirão que o protagonista, quando adulto,
a)procure esquecê-las, valorizando a vida que passou a ter depois de superar as privações de sua infância vazia.
b)a elas se refira de modo a compensar aqueles momentos negativos com as fantasias que agora lhes acrescenta.
c)a elas se refira com o natural ressentimento de quem olha para o passado e percebe que só tem perdas a lamentar.
d)as retome para analisar sua fragilidade de criança, em meio às condições penosas daquela rotina sem revelações.
e)as retome para valorizar o aprendizado profundo da infância, que incluiu as perdas afetivas e o ganho de quem descobre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário