
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre e José Condé, representa a produção literária do estado de Pernambuco.
(Winkipédia, acesso 22/11/2008)
INTERTEXTUALIDADE
Em Bandeira, é possível encontrar uma série de comportamentos peculiares quanto à intertextualidade. Observa-se, por exemplo, que ele tem uma verdadeira fixação no poeta Augusto Frederico Schmidt, tem três outros textos com estes títulos sintomáticos:
“Poema desentranhado de uma prosa de Augusto Frederico Schmidt”
“Soneto em louvor de Algusto Frederico Schmidt”
“Soneto plagiado de Augusto Frederico Schimidt”
Certamente outras comparações podem ser feitas entre Bandeira e vários outros poetas. Feitas essas aproximações à luz de uma teoria moderna da linguagem, o autor apresenta uma obra muito mais interessante. E o que poderia passar de brincadeira moderna.
Curioso é assinalar em Bandeira a autotextualidade, ainda mais apurada que aquela encontrada em Jorge de Lima. Estou usando aqui autotextualidade como sinônimo de intratextualidade. É quando o poeta se reescreve a si mesmo. Ele se apropria de si mesmo, parafrasicamente. Refiro-me especialmente ao poema “Antologia”, que é a síntese que Bandeira fez de sua própria poética. Ele extraiu de vários poemas pensamentos versos que acha fundamentais.
Antologia
A vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
Os corpos se entendem, mas as almas não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Vou-me embora pra Passárgada!
Aqui eu não sou feliz.
-A dor de ser homem...
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.
Quero descansar
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei...
Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Quero descansar.
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
(Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir).
Quando a Indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrada o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com, cada coisa em seu lugar.
Estimulados por este procediemnto, vários escritores localizaram na obra em prosa de Bandeira outros versos dispersos. David Arrigucci Jr. Publica sete “Poemas por acaso na prosa de Manuel Bandeira” (Acados e perdidos, 1979). E, nessa linha, o caso mais curioso é o “Poema encontrado por Thiago de Mello na Itinerário de Pasárgada”, que Bandeira, ele próprio, acabou por incorpora à sua poética:
Vênus luzia sobre nós grande
Tão Intensa, tão bela, que chegava
A parecer escandalosa, e dava
vontade de morrer.
Em Bandeira, essa técnica de cruzamento de textos é variada. Quem quiser mais exemplos pode pesquisar ou pode confirmar num outro poema, “Balada da três mulheres do Sabonete Araxá”, como ele desenvolve essa técnica. Para conferir, sugere-se o estudo de Sônia Brayner (Fortuna Crítica de Manuel Bandeira, 1980) sobre as fontes desse poema, uma vez que ela vai a Luís Delfino, Rimbaud, Eugênio de Castro, Shakespeare, Lamartine Babo e Castro Alves, para explicar sua técnica de composição.
(sem ident.)
Irene no Céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
- Não quero saber do lirismo que não é libertação.
QUESTÃO:
(PUC-SP) Libertinagem, uma das obras mais expressivas de Manuel Bandeira, apresenta temática variada. Indique a alternativa em que não há correspondência entre o tema e o poema.
a) cotidiano — “Poema tirado de uma notícia de jornal”
b) amor erótico — “Irene no céu”
c) teor metalingüístico — “Poética”
d) evasão e exílio — “Vou-me embora pra Pasárgada”
e) recordações da infância — “Profundamente
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