
Nélson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) foi um importante dramaturgo, jornalista e escritor brasileiro.
(Wikipédia, acesso 26/11/2008)
A LINGUAGEM COLOQUIAL DE NELSON RODRIGUES
É fato já por todos aceito no Brasil o papel renovador de Nelson Rodrigues no panorama da dramaturgia brasileira contemporânea, a partir de sua peça "Vestido de Noiva"(1965). Com esta, o dramaturgo conheceu a glória, tendo sido alvo de não poucos estudos que reconhecem sua importância na literatura brasileira. Enquanto as peças nacionais tinham como cenário uma sala de visitas, "numa reminiscência empobrecedora do teatro de costumes" - como bem salienta Sábato Magaldi -, Vestido de Noiva "vejo rasgar a superfície da consciência para apreender os processos do subconsciente, incorporando por fim à dramarturgia nacional os modernos padrões da ficção" (MAGALDI, 1978)
Ora, o crítico mencionado, no seu livro Panorama do Teatro Brasileiro, assim intitula o capítulo que trata das peças de Nelson Rodrigues: "O desbravador", pois esse é o papel que o autor repreenta na moderna dramaturgia brasileira.
A renovação, porém, não se limitou ao aspecto da mudança da temática: aliás, arigor, apenas a Valsa n° 6 se filia ao Vestido de Noiva. Essa renovação se fez sentir também, e sobretudo, no domínio da fala: Nelson Rodrigues criou uma nova linguagem, abrindo caminho a não poucos dramaturgos. Se os dramaturgos da geração anterior faziam uso de um diálogo artificial, um tanto empolado e distante da fala corrente, diária, já Nelson Rodrigues adota uma linguagem que é o reflexo das conversas do homem comum, com sua gíria, com seus modismos, com seus defeitos de vocabulário, com suas incorreções gramaticais, com suas interrupções, enfim com muitas das características da linguagem coloquial.
Não encontramos no seu teatro o diálogo pomposo, artificial, supercorreto; mas diálogo natural, simples, salpicado de incorreções. E dele poderíamos dizer - com as devidas ressalvas - aquilo que o autor francês Brunetière disse, ao falar de Molière, o genial autor cômico do século XVII, que, como se sabe, punha na boca de seus personagens, não só gíria, mas barbarismos e solecismos. Disse Brunetière:
Os defeitos de estilo de Molière não são apenas o reverso ou o resgate de suas qualidades; são a sua própria condição. Ele teria escrito menos bem, se tivesse melhor escrito.
Ou, em outras palavras, correção gramatical, réplicas completas, coesas e encadeamento perfeito do diálogo não fazem parte do teatro de Nelson Rodrigues porque, na linguagem coloquial, o que via de regra encontramos é justamente o emprego de frases incorretas, réplicas incompletas, interrompidas - é o enunciado incompleto -, ou pelos próprios locutores ou pelos ouvintes que, intervindo, tomam a palavra, quer através de simples monossílabos ou de interjeições ou interrogações nem sempre respondidas, seguidas de sugestivos silêncios.
(Debate: O teatro ontem e hoje; Célia Berrettini, esp. em literatura dramática)
RESUMO
A peça "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, reparte-se em três planos: realidade, memória e alucinação. A personagem principal, Alaíde, originária da alta classe média carioca, foi atropelada e, no hospital, em estado de choque, relembra momentos de seus 25 anos de vida, misturando-os ao puro delírio.

A memória dos embates travados com a irmã Lúcia, sua rival no amor de Pedro - o homem com quem Alaíde se casou -, e as fantasias alimentadas a partir da leitura do diário de madame Clessi, prostituta elegante morta em 1905, constituem o argumento, sem dúvida folhetinesco. Lembranças e alucinações se materializam fragmentariamente sobre a cena, enquanto, no plano da realidade, a moça agoniza na mesa de operações.
(Revista Cult, Fernando Marques; Unb)
Nenhum comentário:
Postar um comentário