A IMPORTÂNCIA DA TRANFERÊNCIA PARA O PROFESSOR
Transferir é então atribuir um sentido especial àquela figura determinada pelo desejo. (pg. 91)
Obs: “Instalada a transferência, tanto o analista como o professor tornam-se depositários de algo que pertence ao analisando ou ao aluno. Em decorrência dessa “posse”, tais figuras ficam inevitavelmente carregadas de uma importância especial. E é dessa importância que emana o poder que inegavelmente têm sobre o indivíduo. Assim, em razão dessa transferência de sentido operada pelo desejo, ocorre também uma transferência de poder. Já veremos em detalhes o que isso significa para um professor”. (pg. 91)
Uma outra conseqüência: se o analisando ou o aluno dirigem-se ao analista ou professor atribuindo-lhe um sentido conferido pelo desejo, então essas figuras passarão a fazer parte de seu cenário inconsciente. Isso significa que o analista ou o professor, colhidos pela transferência, não são exteriores ao inconsciente do sujeito, mas o que quer que digam será escutado a partir desse lugar onde estão colocados. Sua fala deixa de ser inteiramente objetiva, mas é escutada através dessa especial posição que ocupa no inconsciente do sujeito.
Isso explica, em parte, o fato de haver professores que nada parecem ter de especial, mas que, na realidade, marcam o percurso intelectual de alguns alunos. Quando vezes não ouvimos dizer que alguém optou por ser geógrafo porque teve, no ginásio, um professor que despertou seu gosto por essa matéria! Não era nenhum grande teórico do assunto, tanto que só aquele aluno se interessou pela Geografia. A idéia de transferência mostra que aquele professor em especial foi “investido” pelo desejo daquele aluno. E foi a partir desse “investimento” que a palavra do professor ganhou poder, passando a ser escutada!
QUESTIONAMENTO
O desejo transfere sentido e poder à figura do professor, que funciona como um mero suporte esvaziando de seu sentido próprio enquanto pessoa.
1. Mas, que sentido esse desejo transfere?
2. Como é que, em última análise, esse professor está sendo visto, já que é essa visão especial a mola propulsora do aprender?
IMPORTANTE
Ocupar o lugar designado ao professor pela transferência: eis uma tarefa que não deixa de ser incômoda, visto que ali seu sentido enquanto pessoa é “esvaziado” para dar lugar a um outro que ele desconhece.
O PROFESSOR NO LUGAR DE TRANSFERÊNCIA
Se fosse o caso de seguir estritamente as idéias acima, bastaria dizer que cabe ao professor renunciar a um modelo determinado por ele próprio; aceitar o modelo que lhe oferece o aluno; suportar a importância daí emanada e conduzir seu aluno em direção à superação dessa importância; eclipsar-se para permitir que esse aluno siga seu curso, assim como o fizeram os pais desse aluno.
O PROBLEMA DO MAL USO DO PODER PELO PROFESSOR
O problema é que, com esse poder em mãos, não é fácil usá-lo para libertar um “escravo” que se escravizou por livre e espontânea “vontade”. A História mostra que a tentação de abusar do poder é muito grande. No caso do professor, abusar do poder seria equivalente a usá-lo para subjugar o aluno, impor-lhe seus próprios valores e idéias. Em outras palavras, impor seu próprio desejo, fazendo-o sobrepor-se àquela que movia seu aluno a colocá-lo em destaque
O POSICIONAMENTO DO PROFESSOR
Cedendo a essa tentação, cessa o poder desejante do aluno. O professor entenderá sua tarefa como uma contribuição à formação de um ideal que tem uma função reguladora, normatizante, e fundará aí sua autoridade. Sua missão será submeter seu aluno a essa figura de mestre. Nesse caso, a Educação fica subordinada à imagem de um ideal estabelecido logo de início pelo pedagogo e que, simultaneamente, proíbe qualquer contestação de um ideal estabelecido logo de início pelo pedagogo e que, simultaneamente, proíbe qualquer contestação desse ideal.
FUNÇÃO DO PEDAGOGO
O que o pedagogo faz é pedir à criança que venha tão somente dar fundamento a uma doutrina previamente concebida. Aqui, o aluno poderá aprender conteúdos, gravar informações, espelhar fielmente o conhecimento do professor, mas provavelmente não sairá dessa relação como sujeito pensante.
DESVIO DE ENTENDIMENTO
Acharão alguns ser pedir demais ao professor que compareça à relação com seu desejo anulado, como pessoa esvaziada, como uma simples marionete cujas cordas o aluno fará brandir a seu bel-prazer?
POSIÇÃO DO PROFESSOR
O professor é também um sujeito marcado por seu próprio desejo inconsciente. Aliás, é exatamente esse desejo que impulsiona para a função de mestre. Por isso, o jogo todo é muito complicado. Só o desejo do professor justifica que ele esteja ali. Mas estando ali ele precisa renunciar a esse desejo. (pg. 94)
KEPFER, Maria Cristina. Freud e a Educação: o mestre o impossível, ed. Scipione, 1989.
Biblioteca Universidade do Estado do Pará – Campus I
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
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