Enquanto, os modernistas digeriam a cultura européia. Bruno alimentava-se da cultura africana para compor suas poesias. Assim para, a análise do léxico na obra BATUQUE pode ser constatado a primeira leitura o interesse pela valorização da cultura africana estabelecida no Brasil. Como representação desse corpus apresento os poemas “Toiá Verequête” e “Cachaça”, onde lemos alguns exemplos do vocabulário lexical empregado pelo poeta: “verequête”, “terreiro”, “rumpi”, “cachaça”, “Ogum”, “batuque”. Assim, com esta análise de corpus verifica-se o enriquecimento da língua portuguesa com o vocabulário e costumes do povo africano.
Palavras Chaves: Estudo do Léxico, Poética, Lusofônia, Modernismo.
“TOIÁ VEREQUÊTE”
A voz de Ambrosina em “estado de santo”
virou masculina.
O corpo tomou jeitão de homem mesmo.
Pediu um charuto dos puro Bahia
Depois acendeu soprando a fumaça.
Seus olhos brilharam.
Aí o “terreiro” num gira girando
Entrou na tirada cantada do “ponto”.
Era a “obrigação” de Mãe Ambrosina
falando quimbundo na língua de Mina.
“Toiá Verequête!”
“Toiá Verequête!”
O Santo dos pretos o São Benedito
tomou logo conta de Mãe Ambrosina
fez do corpo dela o que ele queria.
Então todo “filho de santo” escutou.
E pai Verequête falou como um príncipe
da terra africana que o branco assaltou.
Ele tinha sofrido chicote no trono
Mais tarde foi amo criando menino
e nunca odiava sabia sofrer.
Até nem comia pra dar seu quinhão
a quem ele via com fome demais.
“Toiá Verequête!”
“Toiá Verequête!”
E todos vieram pedir sua benção,
beijando o rosário de contas e “lágrimas
que a muitos foi dada por Mãe Ambrosina,
a “mãe do terreiro”.
Até que uma “feita” se pôs a chorar,
pedindo perdão tremendo na fala,
porque não cumprira com voto sagrado.
Então “Verequête” lhe pôs a mão santa
sobre a carapinha cheirando a mutamba.
“Toiá Verequête!”
E Mãe Ambrosina
Enquanto os forçudos mulatos suados
malhavam no “lê” no “rum” no “rumpi”
foi se retirando num passo de imagem,
até que sumiu no “pegi”.
CACHAÇA
Ó negro arrancado ao torrão congolense!
Tocaste urucungo nos brigues corsários,
dançaste de tanga batuques e jongos
à força de peia
fingindo alegria!
Foste quem plantou partidas de cana
na terra da América,
que o engenho ainda hoje mastiga rangendo.
Serrado vendido
mas tendo na lama
seu santo Orixá.
Sem nunca esqueceres a selva do Congo,
os verdes coqueiros os teus bananais,
fizeste o açúcar o mel a cachaça
que esquenta o teu sangue,
que te dá coragem.
Cachaça é tua vida,
tua festa teumundo,
saúde remédio até valentia.
Coleira de ferro,
"bacalhau", palmatória,
tu nada sentias tomando da "pura".
"MartinPescador" é teu camarada
porque bebe "gole" sem nunca tombar.
O teu Pai de Santo,
tua "mãe de terreiro",
o teu "encantado" o teu "curador"
só fazem "trabalho" cuspindo a "chamada"...
Cachaça é teu céu
onde assento
Ogum Omolu Oxóssi Oxum.
Toda tua crença de alma sofrida
tu sentes no peito
louvando a "caninha".
"Tambores de Mina" Batuques Macumba,
se o teu "assistido" te faz seu "cavalo",
retorces os membros
relinchas fungando,
escavas ochão
mastigas cigarros
sem nada sentir,
porque a "branquinha" teu corpo fechou.
Cachaça nascida do olhoda cana,
que faz com que onegro nem pense em morrer,
que põe nas mãos dele cuícas e surdos
na hora dos ranchos dos santos e choros.
Que sai do almbique cheirando a restilo
já pronta pra tudo
que a gente quiser.
Se não fosse onegro "cachaça marvada",
como é que virias do sem fim domundo?
Só tu é que animas qualquer putirum,
só tu dás consolo
aos que não te negam.
Que fazes os olhos ficarem tristonhos,
as bocas cantarem toadas monótonas
na dança dos pretos cheirando a suor.
Que fazes os braços ficarem mais ágeis
na estiva no rodo empurrando carrinho,
dando pão de fogo pra boca das fornalhas.
Senhora de EngenhoSenhora Cachaça
liberta o teu negro
que sofre o feitiço
que tu lhe puseste
de gostar de ti!...
(Bruno de Meneses, BATUQUE)
eu queria ler mais sobre o desaparecimento de linguas que desaparecem no mundo....vcs ñ poem me indicar algum livro ou autor ?
ResponderExcluirola meu nome é helder e gostaria de saber se vcs podem me enviar uma dica de algum livro ou autor que disserta sobre o desaparecimento de idiomas...
ResponderExcluirheldinhoibl@hotmail.com
A dica é os estudos antropolôgicos de Levi's Streuss, que debate sobre o tema.
ResponderExcluir