- CUSTUMEFábio Quaresma, 2016.No interior da cidade então emancipada de Santarém, Mojuí dos Campos, localizada no oeste do estado do Pará, em pleno plebiscito separatista do Pará. O pesquisador acordará em sobressalto em sua casinha de alvenaria com banheiro externo de aluguel ínfimo com água encamada e luz, do fio de alta tensão que por ali passará e não chegará. Toque, toque, toque insistentemente. Levantou-se e assustado, pois odiava que viessem em sua casa, ainda mais o acordar do que, mas lhe apreciava fazer: dormir. Perguntou, olhando pela fresta da janela de taipa.-Quem é? Ouvindo como resposta.-Vim ter com o Senhor. Era o comerciante da esquina. Foi que exclamei rispidamente.- Não lhe devo nada! Só irei trabalhar depois do almoço. Ele respondeu timidamente em um sussurro.- Antônio, poesia, escrevi uma poesia. Surpreso, baixei o tom de voz e amigavelmente convidei-lhe a entrar e tomar um copo de leite, pois o almoço da carne seca dependurada na parede que ainda não havia tratado, e, até, estava saindo um bichinho branco que o visitante logo me chamou a atenção.-O senhor come essa carne. Disse-lhe.- Noto esse mutum que vemos sair desta carne, perguntando se: Lhe incomoda? E continuando disse: Levam todo o nutriente dessa carne, apesar de saber não o como, alimento-me da carne. Trato e como. Mas sim a poesia cadê me de aqui deixa eu lê.O comerciante mostrando sua delicadeza e sutileza botou-se de lado e disse, eu mesmo leio. Surpreso, disse-lhe enchendo um copo de leite e sentando no chão.O senhor em pé deu-se a ler sua poesia. Quando por fim disse-lhe:- E impressão minha ou o Senhor conta do desgosto passado com sua amante. Continuei. Se não me engano o Senhor é casado e tem um casal. Que isso! Senhor é pecado o que o Senhor esta fazendo. Ihhh, isso não e nada bom. Nem contarei a ninguém sobre sua estada aqui. Ele me respondeu:- O que de mal pode me acontecer? Respondi.- Com isso, o Senhor, me compromete. Cuidado com os custumes ou o Senhor não sabe. Ele arregalou os olhos como um surubim. Dizendo:- Que custumes. Respondi.- O Senhor é casado diante de Deus. Respondeu-me:- Só. E daí! Respondi.- Ihhhhhhhh, meu pai do céu, saia e leve sua poesia. Disse-me.- O Senhor não quer minha poesia. Respondi.- Perdoe- me, mas registrarei as consequências. Até, mais devo notar que é uma bela poesia, que notarei ser o senhor comerciante, casado e agora poeta, realmente poeta, mas cuidado esconda esse papel para que depois de sua morte possa ser publicado. Olha os custumes as punições de Deus são severas. O comerciante saiu e quando olhei a carne tinha sumido o mutum.Passaram-se os dias, semanas até que no dia da votação do plebiscito o lugarejo repleto de familiares, vindo sei lá de onde e sei lá como, conduziam-se em procissão para votar na única Escola, que os alunos chegavam da mesma forma, pois era decisão política, o funcionamento do sistema de votação para o transporte dos alunos durante o ano.Estava dobrando a encruzilhada. Quando, súbito o Senhor poeta me aguardara em sobressalto, amostrando sua mão sem o dedo indicador e o pai de todos, arreganhado como uma rosa. Exclamei.- Meus Deus, que isso, vá no posto de saúde agora. O Senhor precisa de cuidados. Olhou-me com uma cara sínica, dizendo:- Não doe, deixa assim, rsrsrsrsrs. Disse-lhe:- Eitá que isso, mas saiba que sua consciência é seu guia. O senhor bem pode fazer um curativo para evitar que sua mão caia. Ele me respondeu:- Se cai e por quê Deus quis! Complementei: - E se não cair é porque Deus quis, sim entendo. Desejei melhoras, continuando a caminhar para expressar minha decisão na urna eletrônica de votação.Alguns passas, e retornei dizendo:- Ei pera aí, Senhor! Venha cá me conte, que isso? O que aconteceu com o Sr.? Desculpe é que não esperava: - O que foi isso? Diga-me tudo e não me esconda nada. Ele iniciou, dizendo:- Tava caçandu, com minha espirgarda, quandu ouvi o som da paca, engatilhei e corri, mas a danada sumiu e tropecei num galhu, caindu eu pru ladu, a espingarda pru outru. Aí, levantei e fui desintupi o canu assim enfiando esses dois dedos, que davam por ser meus quatro, mentí, quandu puchei, disparum, olha como ficu. Seriamente respondi:- Ihhhh! Curupira, danado, lhe abicoró. Mas o Senhor importante que está vivo é poeta ainda, pois dá pra escrever, segurando a caneta com o mata-piolho, seu mindinho e o Luizinho. Agora vá, pois se sucedeu o infortuno custume.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
Custume
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